ATA DA DÉCIMA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 28.05.1998.

 


Aos vinte e oito dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Doutora Wrana Maria Panizzi, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 206/97 (Processo nº 3530/97), de autoria da Vereadora Clênia Maranhão. Compuseram a MESA: o Vereador Clovis Ilgenfritz, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor Raul Pont, Prefeito Municipal de Porto Alegre; a Senhora Maria Beatriz Gomes da Silva, Secretária Estadual da Educação, representando o Senhor Governador do Estado do Rio Grande do Sul; a Senhora Janice Machado, Secretária-Geral do Governo do Estado; a Senhora Margarete Costa Moraes, Secretária Municipal de Cultura; a Juíza Maria Lúcia Luz Leiria, representante do Tribunal Regional Federal da 4ª Região; o Desembargador Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; o Senhor José Albano Volkmer, representante da Secretaria da Ciência e Tecnologia; a Senhora Verena Niygaard, representante do Chefe da Casa Civil; a Senhora Lícia Peres, representante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher; a Doutora Wrana Maria Panizzi, Magnífica Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Homenageada; a Vereadora Clênia Maranhão, Secretária “ad hoc”. Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças do Senhor Nilton Paim, Vice-Reitor da UFRGS; do Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; do Tenente Arnim Hugo Muller, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; do Senhor Manoel Antônio Albuquerque, Vice-Presidente da Federação Brasileira de Academias de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul; do Senhor Gilberto Rudi Treptow, representante do Reitor da Universidade Católica de Pelotas; da Senhora Eva Sopher, Presidenta da Fundação Theatro São Pedro; do Professor Luiz Eurico Trindade Neves, Presidente do Conselho de Curadores; do Senhor Gehrard Jacob, ex-Reitor da UFRGS; do Senhor Carlos Schmidt, Vice-Presidente da Associação de Docentes da UFRGS; do Senhor Luiz Neto Caminha, Presidente da FAURGS; do Senhor Sérgio Pinto Machado, Presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre; do Senhor Armando Pytrez, Procurador-Geral da UFRGS; da Senhora Lorena Holzmann da Silva, Pró-Reitora de Graduação da UFRGS; da Senhora Maria da Graça Krieger, Pró-Reitora de Pesquisa da UFRGS; da Senhora Lia Terezinha da Silva, Vice-Pró-Reitora de Pós-Graduação da UFRGS; do Senhor Luiz Fernando Coelho de Souza, Pró-Reitor de Extensão da UFRGS; da Senhora Maria Beatriz Galarraga, Pró-Reitora de Recursos Humanos da UFRGS; do Senhor Sílvio Ramos Correa, Pró-Reitor da Comunidade Universitária da UFRGS; do Senhor Luiz Macedo, Superintendente-Administrativo da UFRGS; do Senhor Cristóf Bernasiuk, Superintendente do Espaço Físico da UFRGS; da Professora Maria Martins, Presidenta da Federação das Mulheres Gaúchas; do Estudante Márcio Bernardes, Presidente da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas; do Senhor José Alfredo Duarte, Presidente do Conselho de Economia do Rio Grande do Sul; do Senhor Brites Jaques, Presidente da Fundação Pedroso Horta; da Senhora Magda Renner, Ambientalista e Presidenta da Associação Amigos da Terra; do Senhor Pedro Fonseca, Presidente da FAPERGS; da Professora e Escritora Helen Valquíria Heiffel, Presidenta da Academia Literária Feminina Gaúcha. Também, foi registrado o recebimento de correspondência alusiva à solenidade, de autoria dos Deputados Ciro Simoni e Cézar Busatto e do Vereador Carlos Garcia. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional. Em prosseguimento, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome das Bancadas do PMDB, PTB, PDT, PSB e PFL, destacou a justeza da presente homenagem, como o reconhecimento da comunidade porto-alegrense do trabalho realizado pela Doutora Wrana Maria Panizzi na área da educação, discorrendo, em especial, acerca da atuação da Homenageada junto à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, cumprimentou a Vereadora Clênia Maranhão pela proposta do Título hoje entregue, declarando sua admiração pelas atividades realizadas pela Doutora Wrana Maria Panizzi, seja como professora, cientista ou executiva de renome dentro da sociedade gaúcha e nacional. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, saudou a Homenageada, registrando sua participação ativa nas pesquisas sociais e nos movimentos em busca de melhor qualidade de vida para todos. O Vereador Guilherme Barbosa, em nome da Bancada do PT, discorreu sobre a trajetória profissional da Doutora Wrana Maria Panizzi, parabenizando a Homenageada pela postura assumida “em defesa de uma universidade pública autônoma, independente e que consiga, de fato, produzir ciência e tecnologia para o nosso País”. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, declarando que o conhecimento intelectual deverá ser a moeda mais valiosa que a humanidade terá no futuro, alertou para a importância da valorização do ensino de terceiro grau e congratulou-se com a Homenageada pelo trabalho realizado à frente da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou a Vereadora Clênia Maranhão e o Prefeito Raul Pont a procederem à entrega, respectivamente, do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à Doutora Wrana Maria Panizzi, concedendo a palavra à Homenageada, que agradeceu o Título recebido. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-grandense, agradeceu a presença de todos e, às vinte horas e quarenta e três minutos, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Clovis Ilgenfritz e secretariados pela Vereadora Clênia Maranhão, Secretária “ad hoc”. Do que eu, Clênia Maranhão, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a homenagear a Dra. Wrana Panizzi.

Convidamos para compor a Mesa o Exmo. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Raul Pont; a Magnífica Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nossa homenageada, Dra. Wrana Panizzi; a representante do Sr. Governador do Estado, Sra. Maria Beatriz Gomes da Silva, Secretária Estadual da Educação; a Secretária-Geral do Governo do Estado, Sra. Janice Machado; a Secretária Municipal de Cultura, Sra. Margarete Moraes; a representante do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Juíza Maria Lúcia Luz Leiria; o representante do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves; o representante da Secretaria de Ciência e Tecnologia, Sr. José Albano Volkmer; a representante do Chefe da Casa Civil, Sra. Verena Niygaard e a representante do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Sra. Lícia Peres.

Para dar início a esta Sessão Solene, convidamos a todos para ouvirmos o Hino Nacional.

 

(O Hino Nacional é executado.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra a Vera. Clênia Maranhão, proponente desta homenagem, que fala pelas bancadas do PMDB, PDT, PSB, PTB e PFL.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Comunidade acadêmica, Pró-Reitoras, professores, professoras, estudantes, porto-alegrenses, amigas e amigos da Magnífica Reitora da UFRGS, Wrana Panizzi.

Tive o privilégio. Tive o privilégio de ser a autora do Projeto que concedeu o título de Cidadã de Porto Alegre à Professora e Magnífica Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dra. Wrana Panizzi. Quero destacar não apenas que este título foi aprovado por unanimidade, por todos os Vereadores componentes do Parlamento Porto-alegrense, mas não só isso, durante todo o processo de tramitação deste título, por várias vezes ouvi de Vereadores das diversas Bancadas que eles também gostariam de ter sido os proponentes desta homenagem. E me pediram que expressasse que também eram suas as intenções desta homenagem que hoje fazemos à Professora Wrana Panizzi.

Para ninguém seria tão justa a homenagem da Cidade de Porto Alegre como para esta pessoa, porque, na verdade, o que estamos fazendo hoje é devolvendo, ainda que simbolicamente, o amor que a Professora Wrana tem demonstrado para com a nossa Porto Alegre. Somos cidadãs de uma cidade quando a adotamos para viver e para lutar por ela. Hoje, estamos prestando o reconhecimento público, porque a Professora Wrana escolheu Porto Alegre para ser sua Cidade, mas também para fazer dela o objeto para a sua intervenção profissional. Demonstrou isso ao longo dos anos que tem aqui trabalhado, convivido, organizado sua vida profissional e, principalmente, feito amigos. Demonstrou seu amor por Porto Alegre quando se dedicou a compreendê-la em seus estudos no Mestrado na UFRGS desde 1977, quando os aprofundou num doutorado da Universidade de Paris, em Sorbonne. Pelos seus trabalhos e a sua postura frente ao Departamento de Urbanismo, em seus trabalhos de pesquisa pelo CNPq, à frente da Fundação de Economia e Estatística, quando valorizou as funções daquele órgão tão importante para a avaliação das ações governamentais, depois se fez Pró-Reitora de Planejamento e Administração. A trajetória da Professora Wrana fez com que a Profa. Wrana criasse na estrutura de poder da Universidade uma nova realidade. Antecipando as análises de Henriete Rubin, a escritora que trabalhou os códigos de acesso ao poder para as mulheres, a Profa. Wrana se tornou a primeira Reitora de Universidade Federal do Sul do Brasil e, conivente com a sua história, ocupou esse cargo na defesa da Universidade pública, do mundo acadêmico e do seu Estado. Talvez, hoje, a Profa. Wrana tenha em suas mãos o maior desafio de todas as gaúchas, de todos os gaúchos, que é ser Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com a trajetória que tem essa Universidade, num momento de extrema dificuldade que vivem as universidades públicas brasileiras.

Nós poderíamos, aqui, então, sendo hoje um dia tão significativo de luta pela universidade pública, falarmos das dificuldades, dos obstáculos que hoje vivem os professores e todo mundo acadêmico. Porém, ontem, quando lia na “Folha de São Paulo” a coluna do Prof. Rubem Alves, mudei a intenção de fazer desta tribuna, mais uma vez, um palco de reivindicações de tantas lutas, justas, que nós temos levado na Universidade, com o apoio desta Casa. Penso que repetiríamos aquilo que acredito, faço questão de acreditar, que a sociedade gaúcha está comprometida. Eu preferi, então, palmilhar a minha homenagem à Profa. Wrana Panizzi com um parágrafo do artigo do Prof. Rubem Alves. Ele diz: (Lê.)

“Porque um País, ao contrário do que me ensinaram na escola, não se faz com as coisas físicas que se encontram no seu território, mas com os pensamentos do seu povo. Explico: o que está no início, o jardim ou o jardineiro? É o segundo. Havendo um jardineiro, cedo ou tarde, um jardim aparecerá. Mas, um jardim sem jardineiro, cedo ou tarde, desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo pensamento está cheio de jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos dos que o compõem.”

Eu queria, primeiro, falar das dificuldades desse jardim, que é a universidade pública brasileira. Mas eu acredito que a Reitora Wrana está coordenando uma equipe de jardineiros e que, portanto, haverá sempre jardins. Muito obrigada. (Palmas.)

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra e falará pela Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os membros da Mesa e demais presentes.) A quem mais admirar, nesta gaúcha de Marcelo Ramos, que hoje homenageamos, concedendo-lhe o Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre: a professora dedicada, que fez, das salas de aulas, a tribuna da cultura, do aprendizado e da educação? À doutora em ciências sociais, pesquisadora técnico-científica que, a par de todas as suas múltiplas obrigações, ainda encontrou tempo e ânimo para o exercício da administração pública? Ou à mulher de tempo integral que, enfrentando barreiras e preconceitos, por força de seu talento e de seu trabalho, se impôs à consideração de seus pares, culminando com sua investidura como Reitora da Universidade Federal da Rio Grande do Sul?

Não pode, Sr. Presidente, nossa admiração restringir-se a um só de tais campos de visão, sob pena de cometermos o erro da parcialidade, de nos mostrarmos cegos aos demais, tantos e tão importantes talentos da Dra. Wrana Panizzi, o que, além de injusto, deporia contra nossa capacidade de conhecer as pessoas.

O Dia Internacional da Mulher é oito de março, oficialmente. Mas, hoje, esta Câmara renova aquele dia, ao reconhecer como Cidadã de Porto Alegre, a professora, a cientista, a executiva e, de forma essencial, a mulher eminente que é Wrana Panizzi, senhora da admiração que aqui manifestamos. A Bancada do PPB, integrada também pelos ilustres Vereadores João Dib e Pedro Américo Leal, por meu intermédio, cumprimenta a prezada Vera. Clênia Maranhão, estrela refulgente da Bancada do PMDB, pela oportunidade e inteligência de sua iniciativa, ao sugerir que esta Casa confira à Dra. Wrana Panizzi o Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre em retribuição a todo o trabalho que tem feito, em nossa Capital, em favor da educação e da juventude.

Estar na Reitoria de uma importante universidade, como é a do Rio Grande do Sul, num momento de grave e preocupante comoção docente, é um teste dos mais difíceis, cujos resultados são de prognóstico ainda mais difícil.

É indiscutível que a universidade brasileira precisa ser revigorada e modernizada para que possa influir, como é de seu dever, na habilitação do País ao enfrentamento dos desafios deste mundo, que se torna cada vez mais complexo e competitivo.

Mas será necessário evitar a exacerbação ideológica dos debates em curso e promover o uso sereno da razão, aliado à defesa intransigente do cumprimento das finalidades últimas da universidade, para que o fim do impasse, ora em curso, resulte positivo e contemple o bem comum.

De nossa parte, acreditamos que Porto Alegre passa, agora, a estar muito bem representada na presente conjuntura, por ter, no leme da Universidade do Rio Grande do Sul, a Dra. Wrana Panizzi, a partir de hoje nova cidadã porto-alegrense que, temos a certeza, empenha-se, como sempre fez, exclusivamente na realização do que é melhor para a universidade e, por extensão, para a adequada formação da juventude e o futuro do País.

 

Parabéns, Dra. Wrana Panizzi. E leve a certeza de que nós todos acreditamos e confiamos em seu trabalho. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos, também, a presença dos Vereadores Henrique Fontana e Adeli Sell.

O Ver. Cláudio Sebenelo, representando o PSDB, está com a palavra.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Exmo. Sr. Presidente em exercício da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Clovis Ilgenfritz. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Que força propulsora! De onde tanta energia, suporte para tanta responsabilidade, para tantas iniciativas na luta contra dificuldades intransponíveis? Eu mesmo respondo: de uma mente privilegiada, que entende a cidade onde mora. Agradeço-lhe pela minha “bíblia” como Vereador, chamada “Estudos Urbanos”, a sua obra, que é obrigatória para cada um de nós que vai votar o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental. Lá, encontraremos um bazar de coisas de Porto Alegre, da sua anatomia - “É nem que fosse o meu corpo”, como diria Mário Quintana -, da sua história, da sua gente, do seu “anima”, do seu “cuore”, com todos os cuidados para não “cientificizar” demais, mas para não interromper, também, a espontaneidade do seu crescimento, com todos os cuidados de um jardineiro para dirigi-lo, voltado para a felicidade social, para a utopia de uma cidade, cuja qualidade de vida é a melhor do País. Coletânea em que escreveram urbanistas, paisagistas, arquitetos, engenheiros, administradores, sociólogos.

Ah, Professora Wrana, o inesquecível artigo do Prof. Ruben Oliven sobre Porto Alegre, suas tradições, as tradições do Rio Grande, o êxodo rural e seu desenvolvimento.

Porto Alegre lhe deve pelo seu amor ao ensino, pela maneira de entendê-la, nas suas formas graciosas e seu inconsciente coletivo, suas ruas, suas colinas, seu rio.

Porto Alegre se orgulha de tê-la, de sua luta pelo ensino universitário, transformando a crise em solução, buscando incessantemente, com garra inaudita, a redenção de todos os valores nos quais acredita serem os primordiais para o resgate de todas as nossas mazelas sociais, pela aproximação, a mais íntima da Universidade com seu povo.

Professora Wrana, Porto Alegre se orgulha da nova cidadã, da nossa Reitora e da velha Arquiteta. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença de convidados, autoridades como extensão da Mesa, por isso citamos com satisfação: Vice-Reitor da UFRGS, Sr. Nilton Paim; Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; Tenente Arnim Hugo Muller, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; Sr. Manoel Antônio Albuquerque, Vice-Presidente da Federação Brasileira de Academias de Medicina do RS; Sr. Gilberto Rudi Treptow, representante do Reitor da Universidade Católica de Pelotas; Sra. Eva Sopher, Presidente da Fundação Theatro São Pedro; Prof. Luiz Eurico Trindade Neves, Presidente do Conselho de Curadores; Sr. Gehrard Jacob, ex-Reitor da UFRGS; Vice-Presidente da Associação de Docentes da UFRGS, Carlos Schmidt; Presidente da FAURGS, Luiz Neto Caminha; Presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Dr. Sérgio Pinto Machado; Procurador-Geral da Universidade, Armando Pytrez; Pró-Reitora de Graduação, Lorena Holzmann da Silva; Pró-Reitora de Pesquisa, Maria da Graça Krieger; Vice-Pró-Reitora de Pós-Graduação Lia Terezinha da Silva; Pró-Reitor de Extensão, Luiz Fernando Coelho de Souza; Pró-Reitores de Recursos Humanos e da Comunidade Universitária, Maria Beatriz Galarraga e Sílvio Ramos Correa; Superintendente-Administrativo da UFRGS, Luiz Macedo; Superintendente do Espaço Físico da UFRGS, Cristóf Bernasiuk. Cumprimentamos, também, os Diretores das Unidades Universitárias, Assessores Técnico-Administrativos, Professores e estudantes da UFRGS.

O Ver. Guilherme Barbosa está com a palavra e fala em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. GUILHERME BARBOSA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Às vezes afirmo que para que se defina uma pessoa nós devemos olhar toda a sua história de vida. Dificilmente um momento apenas, um ato, consegue definir essa pessoa. Acho que a Profa. Wrana pode ser definida nesses dois conceitos.

Na sua história se acumulam dois Cursos de Graduação, um Mestrado, dois Doutorados, presidiu a FEE, é Professora de Graduação da UFRGS, Professora de Pós-Graduação da UFRGS, fez parte do Conselho de Administração do Hospital de Clínicas, Pró-Reitora e, por fim, Reitora da nossa queridíssima Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Por isso, só por essa longa história de pesquisa, de estudo, de produção do saber, já seria motivo, mais do que suficiente, para que Porto Alegre recebesse de braços abertos esta nova cidadã.

Também há um momento importante que faria com que a professora Wrana fosse recebida pela nossa Cidade. Refiro-me ao momento por que passa a universidade brasileira e, em particular, a nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em outra ocasião, aqui neste Plenário, com a presença da senhora, eu afirmei que mais de 90% de investimentos em pesquisas no Brasil se dá exatamente nas entidades públicas do País e quase a totalidade disso nas nossas universidades. Destruir a universidade pública no Rio Grande do Sul e no Brasil significa destruir a possibilidade da independência do nosso povo, significa condenar o povo brasileiro à dependência do saber daqueles que o produzem e investem bastante em pesquisa.

Neste momento de crise, neste momento muito sério para o País, a professora Wrana, superando, inclusive o seu compromisso partidário, toma uma postura que nos orgulha a todos na defesa da universidade pública autônoma, independente, que consiga, de fato, produzir ciência e tecnologia para o nosso País. Pela história de vida que acumulou e por este ato, neste momento decisivo para o nosso País, à professora Wrana este Título é mais do que merecido. E o Projeto de Lei da Vera. Clênia Maranhão vem formalizar aquilo que o sentimento já o fez, que a vida de fato já fez. A senhora há muito tempo adotou Porto Alegre e, com certeza, Porto Alegre há muito tempo já a adotou.

Parabéns, e é com satisfação que nós a recebemos, agora, formalmente. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar como extensão da Mesa as presenças da Presidenta da Federação das Mulheres Gaúchas, Professora Maria Martins; do Presidente da União Gaúcha dos Estudantes Secundaristas, estudante Márcio Bernardes; de José Alfredo Duarte, Presidente do Conselho de Economia do Rio Grande do Sul; do Sr. Brites Jaques, Presidente da Fundação Pedroso Horta e da Sra. Magda Renner, Ambientalista e Presidenta da Associação Amigos da Terra.

O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra pela Bancada do PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A ascensão da mulher é um fato concreto na nossa sociedade, basta olharmos para a Mesa - sete mulheres dos onze membros da Mesa. Esta é a homenagem mais justa que se pode prestar a essa figura que estamos homenageando. Wrana Panizzi representa hoje para Porto Alegre a expressão mais cara da inteligência desta Cidade. E nós tivemos agora há poucos minutos uma outra solenidade, neste Plenário, através da qual homenageamos uma outra figura, a do Presidente da FIERGS, o Engenheiro Dagoberto Lima Godoy.

Portanto, esta Casa se sente duplamente honrada hoje ao homenagear essas duas ilustres figuras pelo que elas representam para Porto Alegre e para o concerto intelectual do Rio Grande do Sul. A centenária Universidade da qual Porto Alegre se orgulha de ser a sede, representa para todos nós, os egressos da Universidade, muitos daqui neste Plenário o são, esta centenária Universidade abriga o repositório da cultura rio-grandense. Os impulsos que a nossa civilização gaúcha recebeu provieram dos seus bancos acadêmicos. A construção material desse Estado, científica, cultural muito deve à Universidade. É gratificante observar que nesse processo, e hoje, vários oradores já referiram, nós estamos emergindo de uma grave crise que se abate sobre o ensino de 3º grau neste País. Oxalá, os nossos dirigentes entendam que o futuro deste País, a dobrada do milênio vai depender das condições intelectuais, da difusão do aprimoramento do conhecimento, que vai ser a moeda mais valiosa que a humanidade terá daqui a pouco e essa moeda está sendo cunhada nos centros como a Universidade. É ali que se gesta a sociedade do futuro e nós temos que entender esse desafio. Modernidade não é usar roupas novas, adotar novos sistemas de vida, é mudarmos a maneira de construir o pensamento dessa sociedade. Os instrumentos estão aí, mas precisamos saber e difundir a maneira correta de usá-los em benefício da coletividade. Conheço a Professora Wrana Panizzi desde os tempos da Fundação de Estatística quando lá íamos buscar material para estudo. Hoje, esta Cidade se revolve com a modificação do Plano Diretor. A Professora Wrana, Reitora da Universidade, preocupada com os aspectos diferentes, deve estar, também, dedicando uma parcela da sua atenção para esse processo que estamos desenvolvendo nesta Cidade. Quem sabe teremos que consultá-la muito brevemente sobre o que deverá ser feito com o futuro material de Porto Alegre, uma das Cidades que considero uma das mais belas do mundo e que tem, diante de si, essa região metropolitana, um desafio: o de ser o abrigo de uma população que merece viver aqui, mas que precisa de uma infra-estrutura adequada para o seu correto desenvolvimento.

Professora Wrana, Porto Alegre se sente honrada em recebê-la como sua cidadã, hoje, formalmente. Quase todos os que vêm aqui receber o batismo formal, já receberam o batismo real. Quem vive aqui como a senhora, como o Dagoberto, quem escolheu Porto Alegre, como muitos de nós, inclusive eu, até o próprio Prefeito, para construir a sua vida têm a grata satisfação de, neste encontro, saudar os conterrâneos com a maior efusão e agradecer pela sua contribuição e almejar que continue prestando atenção à comunidade em que vive. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estamos chegando no momento solene de entrega do Título de Cidadã de Porto Alegre e da Medalha de Porto Alegre à Sra. Wrana Maria Panizzi e convidamos a ilustre Vereadora que propôs esta homenagem, Vera. Clênia Maranhão, para que venha até a Mesa para juntamente com o Sr. Prefeito Municipal fazer esta entrega solene.

 

(Procede-se à entrega do Diploma e da Medalha.) (Palmas.)

 

Queremos registrar a presença de Pedro Fonseca Presidente da FAPERGS.

A Sra. Wrana Panizzi está com a palavra.

 

A SRA. WRANA PANIZZI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Senhores representantes da nossa comunidade universitária, dos nossos conselhos superiores, nosso conselho universitário, nosso Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão, nosso Conselho Curador.

Senhores professores eméritos da nossa Universidade, senhores técnicos-administrativos desta mesma Universidade, todos eles meus colegas; meus caros estudantes, senhores representantes do corpo consular aqui presentes, autoridades representantes das diferentes instâncias do Comando Militar do Sul da Brigada Militar, da Universidade Católica de Pelotas, da Federação Brasileira da Academia de Medicina do Rio Grande do Sul, do meu colega ex-Reitor, Prof.Gerard, meu caro Vice-Reitor, Nilton Paim, que ao citar o seu nome, quero saudar, de forma muito especial, a todos aqueles que comigo fazem a administração da Universidade.

Senhores, Senhoras e amigos, a generosidade de um gesto na proposição da Vera. Clênia Maranhão de tornar-me Cidadã de Porto Alegre, iniciativa acolhida unanimemente por todos os que fazem parte da vida desta Casa, me faz estar aqui, neste momento, profundamente emocionada, agradecendo a honra por tão alta homenagem.

Esta Cidade que me adota e esta Câmara Municipal que me concede a sua láurea maior, o título de Cidadão, oficializa uma naturalidade que, me desculpem a ousadia de confessar, carrego dentro de mim, de longa data.

Meus laços de afeto e minha trajetória já me faziam sentir como filha desta terra. Desde que vim de Passo Fundo, terra onde me criei, tenho encontrado aqui as condições e as pessoas que me proporcionaram e definiram uma identidade: a da luta pela educação. Sinto-me, desde sempre, comprometida com a tarefa de educar. Por isso, a iniciativa da concessão deste título representa, mais do que a generosidade com a minha pessoa, um profundo reconhecimento pelo valor da educação, pelo valor do trabalho do professor, pelo valor daqueles que são os trabalhadores da educação, causas essas que me movem e com as quais me identifico não obstante minha maior dedicação ao ensino universitário nesta etapa da minha vida.

Ser professor é profissão, uma digna e útil profissão; ser educador é mais do que isso: é vocação. E toda a vocação nasce de um grande amor e, mais do que tudo, de uma grande esperança.

Penso - permita-me, Vera Clênia, que o cite - como Rubem Alves, que V. Exa. acabou de citar, que “os educadores são como as velhas árvores: possuem uma face, um nome, uma história a ser contada, habitam um mundo em que o que vale é a relação que os une aos educandos, esses também portadores de nomes, de histórias pessoais marcadas por alegrias, tristezas e esperanças”. A educação é algo que acontece nesse espaço invisível e denso que se estabelece entre os dois. Isso foi o que aprendi, ainda jovem, quando escolhi esse caminho, pois quem hoje tem, aqui, sua cidadania porto-alegrense confirmada é uma professora, uma professora que já trabalhou na educação básica - fui professora primária -, na educação média - fui professora secundária -, e hoje é professora universitária na nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Ao relembrar o meu percurso, relembro também Mário Quintana quando ele diz que “Amar é mudar a alma de casa”. Se há uma casa para a qual me mudei foi para a Universidade. Dedicar-me à luta pela universidade pública brasileira é o modo atual do meu engajamento na causa da educação. Existe, atualmente, uma consciência crescente, cada vez mais, sobre o papel estratégico da educação no desenvolvimento econômico e social. É sabido que quanto maior o nível educacional menores são as taxas de natalidade e de mortalidade; menores são as incidências das doenças infecto-contagiosas, melhores são os salários e a sociedade organizada se faz mais presente. Não há mais quem ouse colocar a educação como uma função de segunda categoria. Mas se existe mais clareza quanto ao papel que a educação tem em qualquer projeto de desenvolvimento econômico, na busca do progresso, do bem-estar material das populações, nunca é demais reafirmar que ela é um dos fundamentos da democracia.

E falar, aqui, nisso é importante e fundamental.

Ela é, a educação, um valor em si, algo indispensável ao exercício da cidadania, ou seja, é de fundamental importância, também, para a qualidade de vida das relações humanas, sociais e interpessoais.

Triste o país que não é capaz de propiciar a educação, educação no sentido integral a seus cidadãos.

Sabemos todos que no Brasil atual alguns aspectos da questão da educação são ainda muito preocupantes.

O panorama atual da educação brasileira nos defronta com enormes deficiências que vão do ensino básico ao superior.

Os indicadores educacionais nos colocam em marcada desvantagem quando comparados aos de outros países, inclusive os países vizinhos da nossa América Latina.

Ainda amargamos um elevado índice de analfabetismo, cerca de 16% da população entre 10 e 14 anos são analfabetos no nosso País, enquanto no Uruguai e no Chile esse percentual não ultrapassa 3%.

Cerca de 2.700.000 pessoas, brasileiros em idade escolar, estão fora da escola. Além disso, os 74 milhões de trabalhadores brasileiros que hoje tem colocação na economia formal, dez milhões são considerados subescolarizados, porque não têm o primário completo.

No Brasil, apenas 1% da população tem acesso aos bancos universitários, enquanto na Argentina, nossa vizinha do Mercosul, esse percentual é de 3,3%. A disparidade é ainda maior comparando com os países desenvolvidos. Entretanto, o problema da educação no Brasil não pode ser analisado apenas sob o ângulo quantitativo, é preciso estar atento, principalmente, aos aspectos qualitativos. Quando pensamos os problemas da educação no País, incluímos a questão da formação profissional. Não é possível ignorar que as transformações atuais estão a exigir um novo perfil profissional. Em um mundo cada vez mais globalizado, o acirramento da competição no mercado mundial e as inovações tecnológicas evidenciam a necessidade de que a sociedade brasileira forme profissionais qualificados, profissionais que possam se inserir no contexto das relações econômicas em que o domínio científico e tecnológico é cada vez mais exigido.

Entretanto, ao lado da formação profissional se faz necessário uma educação capaz de formar integralmente o indivíduo em seus aspectos pessoais e sociais, uma educação voltada para a cidadania.

É preciso formar pessoas conscientes de seus direitos, de seus deveres, pois a percepção de seu papel na organização social é condição necessária para a realização pessoal e para o bom desempenho das organizações a que se vinculam.

Para cumprir essas duas tarefas fundamentais - a formação profissional e a formação cidadã - as instituições educacionais precisam ser exemplares, não só em sua competência e efetividade social. Elas tem que ser exemplares, também, na sua política, pautando-se por princípios de ordem social, moral e filosófica claramente definidos.

É importante lembrar ainda que, na sociedade atual, denominada “sociedade de conhecimento”, as novas técnicas de produção e de comunicação estão a exigir um novo tipo de aprendizado, que traz novos desafios à educação. Esta deverá ir além do adestramento, da transmissão mecânica da informação, tão presente nas práticas tradicionais, e formar sujeitos aptos a se beneficiarem da modernidade e predispostos à participação mais efetiva.

Isso significa evitar a reprodução do equívoco que tem marcado, historicamente, a visão sobre o processo educacional em nosso País, e influenciado sucessivos planos educacionais.

Em muitos deles predominou a idéia da educação como alavanca do crescimento econômico, e as ações propostas estiveram voltadas muito mais para a formação de “capital humano” do que para o estímulo ao pensamento reflexivo, à criação científica, artística e cultural. Ora, não são justamente esses os requisitos fundamentais para que um bom profissional seja, ao mesmo tempo, um cidadão?

Este é um dos grandes desafios que temos pela frente, na transição para o novo século: privilegiar um processo educacional consciente e criativo que concebe os indivíduos como cidadãos, em detrimento de um aprendizado mecânico de mão-de-obra, que já tem-se mostrado francamente anacrônico, não respondendo mais aos interesses da sociedade nem às necessidades do mundo do trabalho.

Hoje, não basta termos acesso ao conhecimento; é preciso construí-lo. Ele só está verdadeiramente disponível para quem o tem dentro de si, para quem o incorpora desde o momento em que ele é produzido. Portanto, a perspectiva a ser adotada, desde já, para a educação brasileira, é a de uma formação ampla, que permita ao sujeito ser, simultaneamente, comprometido com a sua realidade local e capaz de uma visão global dos processos dos quais participa. Uma educação que prepare, realmente, os indivíduos para essa sociedade que já está nascendo e na qual o conhecimento é vital, sim, mas aceleradamente se desatualiza, obrigando o sujeito a uma rápida e contínua reinserção nos novos contextos, tanto aqueles desenhados pelos novos paradigmas tecnológicos e econômicos, quanto aqueles produzidos pelos processos de integração cultural. Isso é, sem dúvida, uma atribuição de todas as instituições, sejam formais ou informais, e aquelas que se dedicam à atividade de educar.

Nesse contexto, a universidade pública tem o papel de maior relevância; a ela cabe a formação de recursos humanos altamente qualificados, respondendo adequadamente às crescentes exigências de qualificação para a atuação no mundo contemporâneo. Em contrapartida a tão grande responsabilidade social, as universidades, em especial as universidades públicas, têm que estar adequadamente instrumentadas, tanto do ponto de vista de seu quadro de professores, pesquisadores, técnico-administrativos, técnicos especializados, o pessoal do seu dia-a-dia, quanto também das condições mínimas necessárias à manutenção da essência da universidade, que é a produção e a transmissão desse conhecimento.

Ao se constituir em um pólo de difusão permanente de idéias novas, a universidade é um importante agente transformador da realidade, pois a produção do saber - uma das suas missões fundamentais -, a capacita a pensar alternativas, tanto para áreas como a saúde, a própria educação, quanto tantos outros ramos e áreas dos setores produtivos.

Não podemos esquecer que a educação é um processo contínuo, feito de etapas complementares e de requisitos essenciais a todos os níveis de ensino como a liberdade, a criatividade e a pluralidade. Educar é capacitar, no sentido amplo, para o convívio social, e mais, para o exercício da cidadania, da política, bem como para o desenvolvimento dos talentos individuais. Como a educação é o maior instrumento de transformação da realidade, no Brasil do presente impõem-se ações concretas e urgentes nessa área. Somente através dela construiremos um país democrático e socialmente mais justo, com melhores perspectivas de futuro. Construiremos uma verdadeira Nação.

Assim, educação e democracia são inseparáveis. Desde Atenas, a democracia é uma forma de governo e, mais que isso, é uma forma de vida, mas ela será uma mera menção retórica, se não for garantida a formação de cidadãos ativos, críticos e capazes de participar da construção da sociedade.

Em uma sociedade que aspira alcançar formas democráticas de convivência, educar é um imperativo capaz de gerar, nos homens, as condutas sociais responsáveis, e a democracia não sobreviverá, através dos tempos, se não se transmitirem às sucessivas gerações os valores que a sustentam.

O ambiente democrático abre os caminhos para a cooperação e liberdade, tendendo a superar o individualismo extremo e a impedir a anulação da personalidade.

A democracia constitui a síntese do universalismo e do individualismo. Nela, a vontade geral se transforma em algo mais do que um conjunto de vontades individuais, o que supõe que cada indivíduo pense como membro do corpo social, para além dos seus interesses.

E como muito bem lembrou Rubem Alves (que me permito citar novamente), finalizando um artigo publicado ainda esta semana: “Da educação pode nascer um povo”.

Precisamos recriar e aprofundar a confiança na moral, no bem comum, na justiça e na ética, valores que só a educação é capaz de promover.

E só atingiremos isso na medida em que, desde as altas esferas do poder, se dêem exemplos dignos de imitar, na medida em que os cidadãos aprendam a defender os seus direitos, a assumir as suas responsabilidades e a controlar os seus governantes.

Acima de tudo, é preciso compreender que a democracia se fortalece pela ação das pessoas, não dos governos. Porque ela vive e se afiança quando o poder se distribui em corpos intermediários, franqueados à participação permanente e aberta a todos, como tem sido sempre o exemplo desta Casa.

Como educadora, como Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que sou atualmente, como cidadã de Porto Alegre, que passo oficialmente a ser, como membro da sua comunidade política e cultural, recebo esta homenagem com muito orgulho. O mesmo orgulho que senti ao receber, há algum tempo, a Medalha Cidade de Porto Alegre concedida à Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pelo muito que essa Universidade já tem feito, e, com certeza - e tenham a certeza -, ainda fará por esta Cidade. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul é hoje a maior universidade do Estado, está entre as grandes instituições de ensino superior do País, faz parte da história desta Cidade que já lhe emprestou o nome quando, em seus primórdios, denominou-se Universidade de Porto Alegre. Por sua vez, se Porto Alegre conquistou merecida posição de destaque no cenário nacional e internacional - e recebeu -, temos certeza de que a nossa Universidade, a UFRGS, a nossa UFRGS, deu a sua parcela de contribuição para isso.

Para terminar, como professora que sou, gostaria de lembrar que a conclusão de todo o trabalho é o momento de atar as pontas, atar as pontas daquilo que se tentou transmitir. Quero, sim, atar as pontas, unindo as crenças e os afetos. A crença no papel libertador da educação, o afeto que me une aos meus pares. Ao unir crenças e afetos, quero concluir expressando o meu mais sincero agradecimento pela distinção que estou recebendo, que amplia minhas responsabilidades, mas que anima e revigora minha luta, e também me faz sentir profundamente gratificada.

Agradeço àqueles que, sendo eu ainda estudante, ensinaram-me, com seu exemplo, a grandeza de ser professor, e agradeço àqueles que, mais tarde, como colegas de profissão, ensinaram-me a ser mais do que professora, a ser educadora, que é o que tenho tentado ser. Quero também compartilhar esse título com aqueles que me escolheram sua dirigente e que, através do companheirismo no trabalho, me fazem a cada dia Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o que, sem dúvida alguma é uma honra, é a honra maior que pode almejar uma simples professora como eu. Quero compartilhar esse título com os meus colegas professores, com os meus colegas técnicos administrativos, com os estudantes todos, porque esse título, mais do que meu, é nosso. E chega justamente num dos momentos mais significativos e duros da história da universidade pública brasileira

As coincidências, às vezes, fazem com que a história assim o queira.

Deixei este momento, Srs. Vereadores, que não é o último, mas o momento, talvez, de expressar o meu agradecimento maior para renovar os meus agradecimentos aos Srs. Vereadores da Cidade de Porto Alegre, desta Câmara Municipal, que é a Casa maior de representação do povo de Porto Alegre, e agradecer, de modo especial, à cara Vera. Clênia Maranhão, a quem devo a iniciativa desta homenagem. Não posso ainda deixar de confessar que só agora posso compreender o verdadeiro sentido da palavra homenagem. Etimologicamente oriunda do provençal, tem dois sentidos: um primeiro, significa promessa de fidelidade do vassalo ao senhor feudal; e um segundo, protesto de veneração e respeito; preito. Esta homenagem que hoje recebo, torna-me, agora, vassala, súdita, desta Cidade.

É, portanto, no sentido primeiro de promessa de fidelidade a esta cidade de Porto Alegre e a sua Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que agradeço a honra pelo título recebido. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Recebemos, ainda, o registro, para extensão da Mesa, da Professora e Escritora Helen Valquíria Heiffel, Presidente da Academia Literária Feminina Gaúcha.

Recebemos diversos telegramas parabenizando a Professora Wrana pelo recebimento do título e, alguns, justificando a ausência como a do Deputado Ciro Simoni, Deputado Cézar Busatto e do Vereador Carlos Garcia.

Convidamos a nova Cidadã para participar do Conselho de Cidadãos Honorários que existe nesta Casa. O trabalho que esse Conselho faz, informalmente, traz luzes a muitas questões que discutimos no dia-a-dia. A nossa luta e os nossos propósitos é de fazer com que cada pessoa, homem ou mulher, se transforme num cidadão ou numa cidadã. Que a nossa sociedade seja composta por cidadãos.

Quando nós homenageamos uma pessoa como a Professora Wrana ela se torna cidadã entre os cidadãos. É um exemplo a ser seguido numa Universidade Cidadã.

Convido a todos para ouvir e cantar o Hino Rio-Grandense.

 

(É executado o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos mais uma vez, a presença de todos presentes e da comunidade universidade.

Encerramos a Sessão.

 

 (Encerra-se a Sessão às 20h43min.)

 

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